segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

RESULTADOS DE LOS EXÁMENES LIBRES / REGULARES DE DICIEMBRE 2020

 

PORTUGUES - Resultados de exámenes libres /regulares - diciembre 2020

Los resultados de los exámenes libres de idioma Portugués pueden verse en los siguientes links: 

Nivel Superior:
https://drive.google.com/file/d/1E0-L9fgGsFJaGtveUDF1cPeFYMYxleHS/view?usp=sharing

Nivel Medio:
https://drive.google.com/file/d/1-N5dLZJABLkF6kWLyQYxfiN0C0pT1IZH/view?usp=sharing

Nivel Elemental:
https://drive.google.com/file/d/1HerdJO01sar8R1CJfvmp_GZ1BVLJgpnc/view?usp=sharing

sábado, 12 de setembro de 2020

CÓMO PREPARAR UNA BUENA CAIPIRINHA

El Embajador del Brasil en la Argentina, enseña la receta más tradicional, fácil y deliciosa de la imbatible "caipirinha “brasileira”! (Fuente: https://www.facebook.com/CCBAbuenosaires).

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

sábado, 20 de junho de 2020

Racista e esclavagista? Especialistas contestam acusações a Pessoa - DN

Racista e esclavagista? Especialistas contestam acusações a Pessoa - DN: Escritos de uma das várias personagens (heterónimos) de Fernando Pessoa servem de argumento para criticar o poeta e considerar que não pode ser o nome do Erasmus da CPLP. Especialistas criticam uma falsa politização.

″Pessoa desentendido e caluniado. 'Branqueá-lo?' Não! Entendê-lo!″ - DN

″Pessoa desentendido e caluniado. 'Branqueá-lo?' Não! Entendê-lo!″ - DN: Teresa Rita Lopes, investigadora e profunda conhecedora da obra de Fernando Pessoa, explica porque Fernando Pessoa não é racista nem esclavagista, após uma polémica baseada em "inverdades".

Fernando Pessoa. ″É desonesto dizer que ele era racista e esclavagista″ - DN

Fernando Pessoa. ″É desonesto dizer que ele era racista e esclavagista″ - DN: O investigador José Barreto trabalha há 15 anos no espólio de Fernando Pessoa, escreveu livros e artigos sobre o poeta e é profundo conhecedor da obra. Garante que nunca viu os documentos em que se baseiam as acusações de racismo e esclavagismo ao poeta.

″A escravatura é legítima″, dizia Fernando Pessoa. E cria polémica na CPLP - DN

″A escravatura é legítima″, dizia Fernando Pessoa. E cria polémica na CPLP - DN: A CPLP pondera o nome de Fernando Pessoa para titular o Erasmus entre os países da organização. Escritos do poeta parecem apoiar a escravatura aos 28 anos, mas especialistas consideram isso um "disparate" e "politização".

quinta-feira, 18 de junho de 2020

CARTA DE CLARICE LISPECTOR A TÂNIA KAUFMANN


Carta de Clarice Lispector para a irmã Tania Kaufmann

Fonte: Revista Prosa Verso e Arte

[A TANIA KAUFMANN]

Berna, 6 janeiro 1948

Minha florzinha,

Recebi sua carta desse estranho Bucsky, datada de 30 de dezembro. Como fiquei contente, minha irmãzinha, com certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há muita coisa viva em mim. Mas não, minha querida! Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional, uma vida que não parece com você. Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso – nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

Nem sei como lhe explicar, querida irmã, minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. Depois que uma pessoa perder o respeito de si mesma e o respeito de suas próprias necessidades – depois disso fica-se um pouco um trapo. Eu queria tanto, tanto estar junto de você e conversar, e contar experiências minhas e de outros. Você veria que há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Eu mesma não queria contar a você como estou agora, porque achei inútil. Pretendia apenas lhe contar o meu novo caráter, ou falta de caráter, um mês antes de irmos para o Brasil, para você estar prevenida. Mas espero de tal forma que no navio ou avião que nos levar de volta eu me transforme instantaneamente na antiga que eu era, que talvez nem fosse necessário contar. Querida, quase quatro anos me transformaram muito.


Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? assim fiquei eu…, em que pese a dura comparação… Para me adatar (sic) ao que era inadatável (sic), para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus aguilhões – cortei em mim a força que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. Espero que no navio que nos leve de volta, só a ideia de ver você e de retomar um pouco minha vida – que não era maravilhosa mas era uma vida – eu me transforme inteiramente. Mariazinha, mulher do Milton, um dia desses encheu-se de coragem, como ela disse, e me perguntou: você era muito diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou esta calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com uma lassidão de mulher de cinquenta anos. Tudo isso você não vai ver nem sentir, queira Deus. Não haveria nem necessidade de lhe dizer, então… Mas não pude deixar de querer lhe mostrar o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado.

Minha irmãzinha, ouça meu conselho, ouça meu pedido: respeite a você mais do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você – respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você – pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita – não copie uma pessoa ideal, copie você mesma – é esse o único meio de viver. Eu tenho tanto medo de que aconteça com você o que aconteceu comigo, pois nós somos parecidas. Juro por Deus que se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia – será punida e irá para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não será punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo aquilo que sua vida exige. Parece uma moral amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Espero em Deus que você acredite em mim. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse a minha vida sem eu saber – pois somente saber de sua presença me transformaria e me daria vida e alegria. Isso seria uma lição para você. Ver o que pode suceder quando se pactuou com a comodidade de alma. Tenha coragem de se transformar, minha querida, de fazer o que você deseja – seja sair nos week-end, seja o que for. Me escreva sem a preocupação de falar coisas neutras – porque como poderíamos fazer bem uma a outra sem esse mínimo de sinceridade?

Que o ano novo lhe traga todas as felicidades, minha querida. Receba um abraço de muita saudade, de enorme saudade de sua irmã

Clarice [Lispector]


Clarice Lispector "Carta", em “Correspondências”, de Clarice Lispector.[organização Teresa Montero]. 1ª ed., – Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

terça-feira, 5 de maio de 2020

domingo, 3 de maio de 2020

MARIA HELENA MIRA MATEUS (1931-2020)


Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa,  31 de março de 2020.

Morreu a linguista e professora universitária portuguesa Maria Helena Mira Mateus (Carcavelos, 18 agosto 1931 – 30 de março de 2020), figura cimeira dos estudos linguísticos sobre o português (cf. notícia agência Lusa em 31/03/2020). Licenciada em Filologia Românica em 1954 e doutorada em Linguística Portuguesa em 1974, na Universidade de Lisboa, Maria Helena Farmhouse da Graça Mira Mateus era professora catedrática jubilada da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), onde foi docente durante mais de três décadas. 

Distinguindo-se pelo seu extraordinário dinamismo e poder de iniciativa, foi fundadora e presidente da direção da Associação de Professores de Português (1978-1984) e da direção da Associação Portuguesa de Linguística (1984-1986 e 2000-2004). Dirigiu também a Revista Internacional de Língua Portuguesa do n.º 1 (1988) ao n.º 17 (1997); e de 1986 a 1989 foi vice-reitora da Universidade de Lisboa.

A ação de Maria Helena Mira Mateus foi notável no desenvolvimento científico e institucional da investigação na área do processamento informático da língua portuguesa: em 1986, o presidente da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica incumbe-a de criar o grupo português do Projeto de Tradução Automática da CEE, EUROTRA; em 1989, fundou e presidiu (até 2012) à direção do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC), – entidade hoje integrada no CELGA-ILTEC (unidade criada em 2015, em fusão com Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada da Universidade de Coimbra). Foi no ILTEC que se desenvolveram trabalhos com significado para a definição dos usos padronizados e institucionais da língua, como sejam o Observatório de Neologia do Português, o projeto Bilinguismo, aprendizagem do Português L2 e sucesso educativo na escola portuguesa, a Rede de Difusão Internacional do Português: rádio, televisão e imprensa (REDIP) e o Portal da Língua Portuguesa.

Numerosos são os artigos de que é autora em revistas portuguesas e estrangeiras sobre as áreas da sua investigação (com particular incidência na fonologia do português europeu) e sobre questões de linguística geral, especialmente no que toca às políticas de língua e à teoria da gramática generativa. Entre as obras que escreveu ou coordenou, têm destaque, Aspetos da Fonologia Portuguesa (1975), Fonética, Fonologia e Morfologia do Português (1991), The Phonology of Portuguese (2000, com Ernesto d'Andrade), A Face Exposta da Língua Portuguesa (2002), Gramática da Língua Portuguesa (2003, com Ana Maria Brito, Inês Duarte, Isabel Hub Faria, entre outras), Linguística (2006, com Alina Villalva), Norma e Variação (com Esperança Cardeira), A Língua Portuguesa. Teoria, Aplicação e Investigação (2014); e em 2018 publicou um livro de memórias, Uma Vida Cheia de Palavras.

Conferencista e orientadora de cursos de graduação e de pós-graduação, organizou e colaborou em seminários e colóquios em Portugal e no estrangeiro, com especial referência ao Brasil, a Moçambique, a Cabo Verde e a Macau.

Maria Helena Mira Mateus foi homenageada em várias ocasiões, sendo de realçar a cerimónia que a FLUL realizou em 24 de maio de 2017, marcada com a criação de uma sala com o seu nome na mesma instituição.

Também aqui no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa se registam algumas das intervenções de M.ª Helena Mira Mateus na comunicação social portuguesa a propósito de questões de ensino e política linguística: "Pode estudar-se a língua materna?" (transcrição do Expresso, 24/04/2004), "Terminologias: a nova e a antiga" (Público, 29/11/2006), "Viver em diversidade" (Expresso, 08/12/2006), "O ensino da gramática e a terminologia" (13/12/2006), "Em defesa da diversidade linguistica" (Público, 26/09/2007). Ler também "Sobre a natureza fonológica da ortografia da língua portuguesa". Por várias vezes foi também entrevistada no programa  Páginas de Português, transmitido na Antena 2.

A familiares, amigos e colegas da professora Maria Helena Mira Mateus, também o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa exprime pesar, não deixando de sublinhar o contributo marcante da sua personalidade e visão para o conhecimento e promoção da língua portuguesa.



quinta-feira, 30 de abril de 2020

O TRADUTOR DO PENSAMENTO MÁGICO: AILTON KRENAK

O tradutor do pensamento mágico

O tradutor do pensamento mágico
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O escritor, filósofo, ativista e líder de seu povo, Ailton Krenak (Foto: João Kehl/Revista Cult)

Quando Ailton Krenak pintou a cara de jenipapo, em plena Assembleia Nacional Constituinte, em setembro de 1987, estava produzindo uma imagem histórica, síntese da luta dos povos indígenas pelos seus direitos no Brasil. “Sangrei dez anos por conta daquele gesto”, diz ele. “Aquele protesto não pode ser reproduzido, revisitado. Mesmo nos dias de hoje.” Difícil esquecer o contraste elegante de seu paletó branco e o rosto pintado de preto. Foi o ponto alto da vitoriosa campanha das mais de 300 etnias indígenas que vivem no Brasil pelo direito simples de existir. O feito, inédito, está inscrito na Constituição de 1988: o direito de existir como povo, cultura, território, modo de vida.
Agora, esse direito está novamente ameaçado pela destruição acelerada da floresta. O governo Bolsonaro planeja grandes obras na Amazônia sem consultar os índios, incluindo a regularização do garimpo e da mineração em suas terras, além de promover o desmonte ostensivo da política ambiental e dos órgãos de fiscalização, como a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A retórica inflamada do presidente pela assimilação dos povos indígenas à “sociedade nacional”, como se eles fossem ameaças à “soberania nacional”, coloca ainda mais gasolina nessa queimada. 
Aos 66 anos, Krenak segue resistindo. Lançou este ano o livro Ideias para adiar o fim do mundo (Companhia das Letras) e vive intensa agenda de palestras, entrevistas e eventos. De sua aldeia Krenak, às margens do rio Doce, em Minas Gerais – ecossistema destruído pela lama da mineração –, o filósofo, escritor, jornalista, ativista e líder de seu povo circula pelo mundo orientado pela intuição e por seus sonhos, com a urgência de traduzir para os brancos fragmentos da cosmovisão dos povos indígenas. “Quando os índios falam que a Terra é nossa mãe, dizem ‘Eles são tão poéticos, que imagem mais bonita’. Isso não é poesia, é a nossa vida. Estamos colados no corpo da Terra. Somos terminal nervoso dela. Quando alguém fura, machuca ou arranha a Terra, desorganiza o nosso mundo”, diz Krenak em entrevista à Cult, realizada em outubro passado, em São Paulo. 
Como é ser guiado por um pensamento mágico?
Tem um povo que vive na região do vale do Mucuri, em Minas Gerais, os Maxacali. Eles são vizinhos dos Krenak, que estão na bacia do rio Doce. Nosso território, nossas florestas, foram devastados. O gado entrou lá no começo do século 20. A única coisa que os mineiros sabiam fazer era derrubar mata, botar boi e fazer garimpo. Os nossos parentes Maxacali continuam até hoje cercados por todas aquelas fazendas, sendo moídos por aquela violência colonial em volta deles. Mas 90% deles não falam português e se negam a aprender português – como uma maneira de continuar vivendo neste mundo, que são capazes de recriar todo dia. Eles dão nome a todas as plantas e animais que existiram naquela paisagem antes de ela ser destruída. Cantam para eles, invocam a presença deles e criam um mundo animado para poder habitar. Os Krenak foram várias vezes arrancados da beira do rio e jogados em outros sítios, outros lugares, e tivemos que fazer o mesmo. Tivemos que criar um mundo para poder habitar, paralelo a este que vocês habitam no cotidiano. É uma orientação que pode ser pensada como mágica, mas na verdade é o nosso modo de vida. Enquanto perseverarmos nele, vamos continuar sendo quem somos. Essa experiência de experimentar uma consciência coletiva é o que orienta as minhas escolhas. Se alguém me chama para fazer uma viagem a algum lugar do mundo, eu espero sonhar com aquilo. Se eu não sonhar com a viagem ou com um convite pra sair desse lugar, significa que eu não vou. Nunca sei o que vou fazer. Da mesma maneira que nunca preparo o que vou falar em lugar nenhum. 
É uma “inconstância da alma selvagem”?
É uma forma de preservar de alguma maneira a nossa integridade, a nossa ligação cósmica. Estamos andando aqui na Terra, mas andamos em outros lugares também. E a maioria dos parentes faz isso, todos fazem. É só você olhar a produção de alguns desses indígenas mais jovens que estão hoje interagindo com o campo da arte e da cultura, publicando, falando. Você percebe neles essa perspectiva coletiva. Não conheço nenhum sujeito de nenhum povo nosso que saiu sozinho pelo mundo. Isso sugere que todo mundo anda em constelação. E eu também. É como se fosse um módulo que te conduz. 
Com o que você tem sonhado ultimamente?
Tenho sonhado com uma sequência tão absurda de desastres que me lembra quando eu era jovem e encontrava os velhos, principalmente quando comecei a visitar as aldeias nas florestas do Acre, de Rondônia, e os pajés diziam: “Vocês precisam tomar cuidado porque o mundo está invadindo a nossa existência”. Invadindo. Eu ouvia os velhos falarem isso há 40 anos, como um espectador. Até que também comecei a ter os mesmos sonhos premonitórios que eles, ao olhar as estradas, os tratores e as motosserras chegando; o barulho delas derrubando as grandes árvores, a revolta dos rios, os rios falando. Às vezes com raiva, bravos, às vezes com sentimento de ofensa. Nós acabamos nos constituindo como terminal nervoso do que eles chamam de natureza. Meu corpo pode ter uma reação de vomitar se eu escutar o barulho de uma motosserra. Aquele barulho pra mim é uma ameaça. O fedor do diesel, de gasolina. São cheiros envenenados. 
Você é um tradutor entre dois mundos que estão novamente em conflito extremo, com um deles querendo acabar com o outro. O que é possível traduzir neste momento? 
Fazer essa mediação entre os que vivem fora e dentro deste mundo cheio de racionalidade é ocupar um lugar de constante conflito. Não é confortável. Acredito que nenhum dos meus outros irmãos que tenha que fazer isso se sinta bem. É uma constante fustigação do espírito para ter ciência de onde se está, não se confundir e ficar perdido, saber de onde veio e ter alguma perspectiva de para onde se está indo. Cada um dos nossos povos têm um conduto e, se você ficar nesse lugar, relaciona-se com outros mundos sem tanta aflição. Mas é uma experiência involuntária também. Entendemos que muitos de nós nascem com essa habilitação. Tem gente que nasceu pra ser caçador, tem gente que nasceu pra ser guerreiro, ficar ali segurando a porta do território convocando o povo, convocando tudo o que ele pode para resistir nesses lugares. Esse é o lugar de onde a gente fala e habita. A gente não fala de qualquer lugar. No livrinho Ideias para adiar o fim do mundo, eu estava experimentando a ideia de compartilhar com outras pessoas – que vivem nessa realidade de um mundo prático – que existem outros mundos. Se conseguirmos fazer essa comunicação, já distendemos um pouco o lugar que habitamos. Esse mundo pragmático em que a gente coexiste é um lugar de passagem de outros povos, outras mentalidades e culturas. E não existe só este mundo de concreto, ruas e cidades; que imprime no corpo da Terra a marca dos homens como se eles fossem a única existência inteligente e sensível. Se você conversar com os sábios dos Krenak, dos Guarani, dos Xavante e perguntar “O que quer dizer o nome do seu povo?”, eles vão dizer “ente humano”, “nós”, desmantelando a ideia de indivíduo e dando oportunidade de conversarmos com o rio, com a montanha, com outros seres que não são os eletivos humanos. Porque alguém elegeu este lugar como se fosse um clube. E, se você quiser fazer parte desse clube, vai reforçar a predação do planeta andando pelo mundo como se fosse a única inteligência viva da Terra. É uma racionalização absurda do pensamento. É isso que tem sido denunciado como uma espécie de humanidade-zumbi, uma humanidade petrificada que nem sabe o que está fazendo, mas continua fazendo. E isso incide sobre o mundo de maneira tão brutal que chegamos ao ponto de estarmos agora com esses mundos em colisão, como se não pudesse existir mais nenhum lugar da Terra que essa humanidade não possa invadir. É uma mentalidade que também é alimentada por uma cosmovisão. E não são só os povos originários que têm cosmovisão. Os norte-americanos brancos que foram colonizar o norte da América e vieram implantar a semente do capitalismo, que assumiram esse lugar de agentes colonizadores do planeta, também têm uma cosmovisão.
Que cosmovisão seria essa?
É muito atraente porque é emoldurada pela ideia da mercadoria que o capitalismo imprimiu na mente e no coração das pessoas como uma religião. A principal religião do mundo hoje é o capitalismo. O deus deles é a mercadoria. E nas religiões dos brancos tem uma história de que nos primórdios dessa humanidade que se espalhou pelo planeta como uma praga, o deus deles ficou muito bravo e destruiu aquele mundo com um dilúvio, porque o mundo estava sujo. Criou, então, um mundo novo, mas aquela humanidade já tinha essa doença de buscar a mercadoria em algum lugar. Ao longo da história desses brancos, na cosmovisão deles, também já houve um fim de mundo, e eles olham para nós com estranhamento quando falamos em fins de mundo, porque não têm memória. Como diz Davi Kopenawa no livro A queda do céu (Companhia das Letras), os brancos escrevem livros porque têm o pensamento cheio de esquecimento. Acho essa frase de uma sabedoria tão maravilhosa, porque ele está dizendo sobre uma humanidade que esqueceu quem é. Foi cooptada. Isso que a gente chama de capitalismo, na Idade Moderna, já existia no coração dessas pessoas, porque o mito de origem dos brancos é um mito de dominação da Terra. O deus deles mandou eles dominarem a Terra. Então eles são obedientes, só estão fazendo o que foi mandado. Os povos nativos de vários lugares do mundo resistem a essa investida do branco porque sabem que ele está enganado, e na maioria das vezes tratam ele como um louco. Sempre olhei essas grandes cidades do mundo como um implante sobre o corpo da Terra. Como se pudéssemos fazer a Terra diferente do que ela é, não satisfeitos com a beleza dela. A gente deveria é diminuir a investida sobre o corpo da Terra e respeitar sua integridade. Quando os índios falam que a Terra é nossa mãe, dizem “Eles são tão poéticos, que imagem mais bonita”. Isso não é poesia, é a nossa vida. Estamos colados no corpo da Terra. Somos terminal nervoso dela. Quando alguém fura, machuca ou arranha a Terra, desorganiza o nosso mundo. Em Ideias para adiar o fim do mundo, eu estou invocando um pensamento amplo que existe em muitos lugares do planeta, naquelas vilas remotas do Pacífico Sul, lá no Ártico, na Terra do Fogo, em toda essa extensão que a gente acha que é o continente americano; na Europa, na África, na Ásia, onde ainda existem muitos mundos por vir. As ideias para adiar o fim do mundo na verdade são uma janela para outros mundos possíveis. Lembro que na década de 1990 eu via aquela convocatória para aqueles encontros, o Fórum Social Mundial, com uma esperança muito grande de que aquela concentração de pessoas do mundo inteiro pudesse funcionar como uma escolinha de reeducação das mentalidades. Mas aquela proposta não teve a potência e a coragem de confrontar o capitalismo, e o que a gente viu de lá pra cá é o capitalismo impregnando o mundo feito a lama tóxica da mineração que hoje vive na beira do rio Doce, onde vive minha família, meus netos, meus filhos, as pessoas que andam comigo.
Dá pra fazer esses mundos diferentes coexistirem sem uma cosmovisão compartilhada?
Se você imaginar que o tempo de constituir um passo na direção de uma cosmovisão compartilhada demora eras, estamos com pouco tempo pra isso, porque a constatação é que estamos diante de um colapso socioambiental. Como se um paradigma fundamental para a ideia extrativista dos humanos no planeta estivesse se encerrando com um aviso: não dá mais, vocês não podem mais arrancar petróleo, água e floresta porque esse planeta não suporta mais a presença de vocês aqui. Como vamos trabalhar no caminho de integrar visões de mundo se estamos numa contagem regressiva da nossa permanência na Terra? A fé na ciência e na tecnologia está iludindo as pessoas. A queda do céu, do Davi Kopenawa, e A terra inabitável, do David Wallace-Wells (Companhia das Letras), falam da mesma coisa, e um nasceu em Nova York e outro em uma floresta na fronteira com a Venezuela. Eles não têm nenhuma troca cotidiana de opinião sobre o mundo, mas os dois, por caminhos diferentes, chegaram à mesma conclusão: estamos num fim de mundo. Pelo menos desse mundo que todo mundo acha que pode saquear. Se você olhar um lago que não recebe água de fora e acompanhar ao longo do tempo o que acontece com ele, vai ver que aquela água apodrece. Estamos passando por uma transformação assim no planeta, mas a maioria das pessoas não está vendo. Se tem uma parte de nós que acha que pode até colonizar outro planeta, significa que eles ainda não aprenderam nada com a experiência aqui da Terra. E eu me pergunto quantas Terras vamos ter que consumir até essa gente entender que está no caminho errado.
É o alerta que você faz no livro Ideias para adiar o fim do mundo.
No livro, falei de uma inquietação que eu e o meu povo sentimos, porque nós estamos vendo a terra fugir debaixo dos nossos pés. O Watu, nosso rio, esse que no mapa aparece com o nome de rio Doce, foi massacrado ao longo de aproximadamente 200 anos até ser posto em coma. Nós cantamos para o nosso rio, continuamos conversando com ele – e ele, em sua cumplicidade com a gente, entra nos nossos sonhos e vem nos curar enquanto velamos o seu corpo, enlameado. E os engenheiros, os brancos, ainda insistem nessa conversa fiada de que vão bombardear o rio com remédio pra ele sarar. Isso é mentira. Eles não sabem fazer isso. A única potência capaz de restaurar o rio Doce é a Terra, mas ela tem que estar com saúde. Se estiver doente, o rio não vai se recuperar. Se continuarem agredindo o rio, ele vai refletir a nossa agressão. É isso que o Watu ensina aos filhos deles nos sonhos. O branco chegou e começou a tirar a floresta, deixou o rio nu, exposto a essa circulação humana em volta dele com estradas de ferro, barragens, com toda essa agressão. O rio tem um corpo igual ao meu e o seu. 
Ailton Krenak (Foto: joao_kehl / Revista Cult)
“Quando este mundo acabar, nós vamos assistir. Porque sabemos onde estamos” (Foto: João Kehl)
Em 2015 você deu uma entrevista afirmando que aquele era o pior momento para os indígenas no Brasil. Continua com a mesma opinião? 
Ali a gente vivia o enunciado do pior momento, com aquela tentativa de desmanchar o reconhecimento territorial indígena ocorrendo no campo do Legislativo, das negociações políticas. De 2018 para 2019 entramos numa terra sem lei. Então é pior numa terra sem lei. Antes tinha lei. Antes eles tinham que fazer uma medida provisória, tentar fazer uma emenda na Constituição, mas agora não precisam de mais nada disso. Simplesmente botam fogo na Amazônia, param de demarcar terras, extinguem a Funai, acabam com o ICMBio. É uma descarga de arrasar. E 2015 foi um prenúncio disso.
Qual o tamanho da ameaça que Bolsonaro representa para os modos de vida dos povos tradicionais?
Eu não gosto de personalizar. O que está acontecendo é uma ruptura institucional tão grande que personalizar isso seria dar muito crédito a tanta mediocridade. Não vejo ninguém com vulto de líder político nem estadista. Se a gente tivesse um estadista que pautasse o país por uma política radicalmente contrária a tudo o que acredito, eu ia dizer que tem um projeto de Estado. Mas hoje o que nós temos são pessoas violentas ofendendo, agredindo, mentindo feito loucos e eu não vou dar resposta a esse tipo de blasfêmia. É melhor ele ir conversar com o Edir Macedo. 
Como vê essa ameaça da assimilação cultural, promovida em inúmeras declarações de Bolsonaro e que visa fraturar a espinha dorsal das comunidades?
Eu penso que cada indivíduo dessa cultura, dessa civilização que veio para cá saquear o mundo indígena, é um agente ativo dessa predação. E eles estão crentes, confiantes, de que estão fazendo a coisa certa. Talvez o que incomode muito os brancos seja o fato de que o povo indígena quer viver colado na terra e não admite a propriedade privada como fundamento. É um princípio epistemológico. O pensamento vazio dos brancos não consegue conviver com a ideia de viver à toa no mundo. Acham que o trabalho é a razão da existência deles. Eles escravizaram tanto os outros que agora precisam escravizar a si mesmos. Não podem parar, experimentar a vida como um dom e o mundo como um lugar maravilhoso. O possível mundo que a gente pode compartilhar não tem que ser um inferno, ele pode ser um lugar bom. E o que estamos vivendo no Brasil nos últimos anos é uma espécie de surto capitalista, como uma metástase num organismo que adoeceu. Um organismo que não consegue buscar água pra beber, uma medicina saudável; então come mais veneno, produzindo uma agricultura cada vez mais drogada. Essa espécie de metástase do pensamento do branco sobre a Terra é o maior engano. 
Como resistir?
A longa história de resistência do nosso povo me faz acreditar que, quando este mundo acabar, nós vamos assistir. Porque nós sabemos onde estamos. Os nossos netos, tataranetos, vão sobreviver a essa experiência ruim de desencontro que a gente persiste em manter se repetindo. Esses brancos, eles saíram algum dia, num tempo muito antigo, do nosso meio. Conviveram com a gente, depois esqueceram quem eram e foram viver de outro jeito. Se agarraram às suas invenções, ferramentas, ciência e tecnologia. Eles se extraviaram, saíram predando o planeta. Então a gente se reencontra e há uma espécie de ira por termos permanecido fiéis a um caminho aqui na Terra que eles não conseguiram manter. Ficam horrorizados e dizem que somos preguiçosos, que não quisemos nos civilizar. Como se “civilizar-se” fosse um destino. Isso é bobagem, uma religião deles. A religião da civilização. Eles mudam de repertório, mas repetem a dança. A coreografia deles é a mesma. É pisar duro sobre a Terra. A nossa é pisar leve, bem leve, sobre a Terra. 
O perspectivismo ameríndio do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro trata dessa integração “homem-natureza”. 
Ainda bem que no mundo dos brancos algumas pessoas já conseguiram fazer essa travessia, e de cá, deste outro lado, junto com o nosso povo, traduzem para o pensamento do Ocidente visões como essa, que são chamadas de perspectivismo indígena ou ameríndio. É uma convocatória para pensar de outro jeito, para estar no mundo de outro jeito, admitir outro jeito de estar no mundo. Ou você ouve a voz de todos os outros seres que habitam o planeta junto com você, ou faz guerra contra a vida na Terra. As pessoas que estão guerreando contra o meu povo estão guerreando contra a vida na Terra. Quando me lembro disso, eu me fortaleço, fico forte. E não vejo nada que pode ameaçar este lugar que nós habitamos. 
São mais de 500 anos de resistência, e vocês não estão sós; há o cacique Raoni e o xamã Davi, e há milhares de jovens como a sueca Greta Thunberg, do movimento das greves climáticas.
Outro dia eu vi que alguém publicou uma matéria extensa para ofender essa menina, dizendo que ela estava sendo manipulada. Dizem a mesma coisa do povo indígena. Dizem que o chefe Raoni não sabe o que fala, que os outros mandam ele falar. É uma ofensa contra uma pessoa, um ser coletivo, que ofende a todos nós. Aquela menina e aquele ancião estão falando a mesma coisa. Em línguas diferentes, em lugares diferentes. Então, ainda bem. Já tem dissidência no mundo dos brancos.  
Você é liderança Krenak, jornalista, educador, filósofo. Quem é Ailton Krenak hoje? 
Eu não tenho essa compreensão do que faço. Assim como não planejo o que faço, também não tenho uma compreensão de mim mesmo. Acho que foi o Millôr Fernandes que disse que nunca escreveria uma autobiografia, porque acha cretino. Eu também acho. Procuro ser o mais fiel possível ao meu coração, aos meus ancestrais. Procuro não neutralizar esse lugar, e entender que cada situação que a gente enfrenta desafia a gente a ser jornalista, a pensar, a atuar no mundo, porque estamos nele para interagir com ele. A minha experiência tem mais interesse na vida, não nos papéis que as pessoas interpretam. E evito de toda maneira ficar num lugar de interpretar qualquer coisa. Reconheço alguma continuidade nesse pensamento porque é o que aprendi dos nossos velhos. Eles viveram em outro tempo, mas também tiveram que se refazer pra poder continuar entendendo o mundo e interagindo com o mundo no sentido de expandir a vida, e não reduzi-la a uma mediocridade. Deveria ser a profissão de fé de qualquer pessoa. Atuar no mundo para a vida continuar existindo, não como uma reprodução material da vida, mas como uma continuação da experiência mágica de existir. Em vez de afirmar “Penso, logo existo”, mudar a frase para “Eu estou existindo”. Resistindo. É pra isso que a gente foi feito.
Bruno Weis é jornalista e coordenador de comunicação no Instituto Socioambiental (ISA)

O tradutor do pensamento mágico: Ailton Krenak circula pelo mundo orientado pelos sonhos e pela urgência de traduzir para os brancos fragmentos da cosmovisão dos povos indígenas

segunda-feira, 20 de abril de 2020

segunda-feira, 13 de abril de 2020

CLASES VIRTUALES















Hola a todxs:

Queríamos informar que a partir de hoy 13 de abril ya se encuentran disponibles los espacios virtuales de las diferentes comisiones de Portugués Elemental, Medio y Superior en el Campus de Filo, con el objetivo de adaptar la cursada a la modalidad semipresencial, tal como fue solicitado por la autoridades de nuestra Facultad, en el contexto de emergencia sanitaria de público conocimiento.

Los/as estudiantes que deseen realizar cambio de materias en virtud de la reprogramación de asignaturas deben dirigirse al siguiente enlace:

http://academica.filo.uba.ar/inscripciones-y-renuncias

Cordialmente,

Equipo de Portugués
FFYL-UBA



sábado, 11 de abril de 2020

35 ANOS DA MORTE DA ESCRITORA CORA CORALINA


Busto de Cora Coralina em frente ao museu em homenagem à poetisa (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)


Após 35 anos da morte de Cora Coralina, obra ainda encanta

A poeta e contista ganhou notoriedade nacional já com 90 anos de idade

Publicado em 10/04/2020 - 09:45 Por Gilberto Costa - Repórter da Agência Brasil - Brasília


Esta Sexta-Feira da Paixão, 10 de abril, marca a passagem dos 35 anos de morte de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, mais conhecida pelo pseudônimo de Cora Coralina.

A poeta e contista ganhou notoriedade nacional em 27 de dezembro de 1980, já com 90 anos de idade, após ser resenhada por Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) em sua coluna publicada em um sábado no Jornal do Brasil. “Cora Coralina, para mim a pessoa mais importante de Goiás. Mais do que o governador, as excelências parlamentares, os homens ricos e influentes do estado. Entretanto, uma velhinha sem posses, rica apenas de sua poesia, de sua invenção e identificada com a vida como é, por exemplo, uma estrada.”

A partir de então, o noticiário destacava o fato de uma mulher, idosa, do interior do Brasil, e com pouca escolaridade - estudou até a quarta série do antigo primário - romper a cena literária e começar a publicar a partir dos 75 anos. Não foram, no entanto, as condições socialmente marcadas que fizeram Cora Coralina merecer a atenção de Drummond e, antes do poeta, um encontro com Jorge Amado.

“Cora Coralina tem versos fortes, densos e essenciais. Isso a fez universal. Mulher que dialogou com seu tempo estilístico, abrangendo vários tempos semânticos. Sua vinculação com a terra, o ar, a água, as coisas mais essenciais do humano, fez de sua poesia algo reconhecível para todos”, avaliza Cleomar Rocha, professor da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (UFG) e coordenador do MediaLab, dedicado à pesquisa, desenvolvimento e inovação em mídias interativas, que participou do processo de modernização do Museu Casa de Cora Coralina, que funciona na antiga casa da poeta na cidade de Goiás, ou Goiás Velho, a 130 quilômetro (km) de Goiânia.

Inteligência madura e simples

Rocha considera que a visão de mundo da poeta e contista “apontava para uma inteligência madura, simples e densa. E essa densidade e simplicidade que conduziram a poetisa a um contexto de relevância nacional, em franco diálogo com outros nomes importantes da literatura, como Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado”. Para ele, o maior legado deixado por Cora Coralina foi “ver e fazer ver a poesia das coisas simples”.

O despojamento da escritora também comove a jornalista Elza Pires. “Cora Coralina é para mim uma daquelas leituras recorrentes que vou e volto ao longo do tempo e dependendo dos momentos. Ela reaviva a memória, fala das coisas simples e tem um otimismo vivo que perpassa seus contos e poemas.”


Casa de Cora Coralina às margens do Rio Vermelho - Marcello Casal jr/Agência Brasil


A jornalista conheceu Cora Coralina. “Lembro dela sentada em uma cadeira com uma bengala ao lado. A porta de entrada da sua casa, com aquele corredor comprido bem na entrada, estava sempre aberta para quem quisesse. Foi assim que a vi pela primeira vez em uma das minhas férias escolares. Minha avó materna tinha uma casa perto da casa velha da ponte. Era curioso ver aquela senhora que falava mais em verso do que em prosa e nos divertia com seus longos textos, dela mesma e de outros poetas, todos decorados. Ela nos incentivava a memorizar poemas, lembrando trechos inteiros de Neruda a Goncalves Dias”.

A recordação de Elza Pires assinala que apesar de uma produção que retrata a vida em uma pequena cidade do interior, a criatividade e o estilo de Cora Coralina não foram forjados no confinamento das montanhas de Goiás.

A análise da obra atesta influência das vanguardas literárias, como aponta Goiandira de Fátima Camargo, da Faculdade de Letras da UFG. “Sua poesia e prosa só são possíveis com as conquistas do Modernismo brasileiro”. Em sua opinião, “a importância de sua poesia para a literatura nacional, assim como Manuel Bandeira, foi ter feito da vida, suas alegrias e reveses, matéria de poesia, sem torná-las pessoais. Pelo contrário, alcançou uma identificação com o leitor, que reconhece nos seus poemas uma vida simples, humilde e de luta.”

Segundo a professora, embora Cora Coralina “não tenha tido uma formação educacional completa e nem tenha frequentado o meio intelectual, ela era atenta à literatura, ao conhecimento livresco”. Livros lidos pela escritora estão guardados em seu museu. O que Cora Coralina não aprendeu com eles, “a vida lhe ensinou. E é isso que encanta os seus leitores: a experiência de vida ser tão plena na sua poesia mais do que a sofisticação dos versos mais eruditos”, sublinha Goiandira Camargo.

Voz feminina

Casa de Cora Coralina foi transformada em museu - Marcello Casal jr/Agência Brasil

De acordo com a acadêmica, Poemas dos becos de Goiás e estórias mais (1965), Meu livro de cordel (1976), Vintém de cobre. Meias confissões de Aninha (1983) e Estórias da Casa Velha da Ponte (1985) guardam o “melhor legado” de Cora Coralina para a literatura brasileira.

“Nunca um escritor ou poeta nacional se aproveitou tanto da memória, dos acontecimentos pessoais para transformá-los em experiência poética que, a partir da leitura de cada leitor, se universaliza, se torna de todos nós”, considera Goiandira Camargo. “Seus poemas transitam entre a poesia e a prosa, sua prosa mais memorialística do que ficcional, é uma sensível crônica dos costumes, das histórias do povo brasileiro de Goiás”, classifica.

Para ela, Cora Coralina é “uma da vozes femininas mais expressivas e fortes da literatura” e manteve sua visão de mundo “voltada para os menos favorecidos. As figuras de sua poesia e narrativa são pessoas simples, do povo, a mulher da vida, o menor abandonado, a cozinheira...”


Da janela da Casa de Cora Coralina, visitantes veem o Rio Vermelho que corta a cidade de Goiás
- Marcello Casal jr/Agência Brasil

A mesma inclinação da escritora observa Elza Pires ao ler Confissões de Aninha, onde em um conto curto conta a estória de uma menina, Jesuína, que é castigada por ter quebrado uma louça bonita da madrinha. Por isso obrigada a trazer no pescoço o colar com os cacos da tigela. “Cora relata que esse era um castigo comum imposto às crianças”. 

A jornalista sente falta de “estudos mais aprofundados” sobre a obra de Cora Coralina, especialmente os contos. A professora Goiandira Camargo avalia que passados 35 anos da morte da escritora, “a crítica canônica do eixo Rio-São Paulo ainda não se interessou por ela. Houve uma certa dificuldade pelo fato de ser mulher no meio intelectual predominantemente masculino”.

A indiferença não era estranha à Cora Coralina que um dia traçou em Meu livro de cordel: Nasci para escrever, mas o meio,/ o tempo, as criaturas e fatores/ outros, contramarcaram minha vida.

Fonte: Agência Brasil

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

MESA DE EXÁMENES DE FEBRERO











Informamos que los resultados de la mesa examinadora de febrero/2020 estarán disponibles en la cartelera del Departamento de Lenguas Modernas (3er. piso) el jueves 27/2 a las 18 hs.

Se firmarán las libretas de los alumnos/as aprobados/as (Nivel Superior) en la próxima mesa examinadora del mes de mayo.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

REVISTA POETRÓNICA (PORTUGAL)

A Poetrónica n.º 3 está em preparação. Tal como aconteceu nos números anteriores, procuram-se poetas com um pensamento próprio e linguagem capaz de lhe dar expressão.
Quem pretenda participar deverá enviar até três poemas para bibliotronica.pt@gmail.com Data-limite: 24 de março. Depois desta data, e após seleção prévia pelos editores, os poemas serão entregues, sem indicação de autoria, a selecionadores experientes em interpretação, para uma seleção múltipla e independente.

terceiro número da Poetrónica será ilustrado por Arcangela Dicesare e editado por Ângela Correia, Andresa Marques, Carlotta Defenu, Carolina Coelho, Catarina Coelho e Flávia Silva.
Poetrónica n.º 2 resultou da seleção de Beatriz Batarda, Helder Macedo, José Gil e Maria João Pires, foi editada por Ângela Correia e Ana C. Rafael, e ilustrada por Sofia Livesay.

Poetrónica n.º 1 resultou da seleção de António Damásio, Bela Silva, Fernando Guerreiro e Guta Moura Guedes, e foi editada por Ângela Correia (que também ilustrou) e Beatriz Saraiva.
Arrisque!
O livrónico de originais Aqui e Além. Álbum de Poemas e Fotografias, de Ângela Correia, reúne 33 poemas, sem data nem local, e 31 fotografias de um único anoitecer brumoso em Nova Iorque, ocorrido em junho de 2019. Assina o prefácio Fernando Guerreiro, professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, poeta, ensaísta, investigador, autor de diversos livros sobre cinema e literatura. Nazaré Carvalho, que assina a edição, acumulou experiência de edição e revisão na Editorial Presença e de comunicação na McKinsey & Company, e trabalha atualmente num grupo de comunicação social.
No nosso blogue, Os Invulgares prosseguem a publicação de narrativas breves, sempre editadas, e comentadas por leitores atentos e exigentes. Hélio Sequeira escreveu sobre a Infinita Guerra e Carolina Andrade sobre Um peixe à beira-mar. Cada um no seu estilo inconfundível.
A operação de depuração da lista de Livrónicos na Internet, feita com a inestimável ajuda de J. A. Marcos Serra foi concluída. Foram removidos alguns títulos entretanto desaparecidos da Internet, corrigidos outros e acrescentados vários. Embora seja um trabalho sempre em curso, a lista está agora bastante mais afinada. Todos os leitores que tenham sugestões de acrescento de e-books a esta lista poderão usar o formulário que temos disponível para o efeito em Contactos (é o primeiro). Agradecemos muito toda a ajuda!

Na recente renovação da Bibliotrónica Portuguesa, foi acrescentada uma janela de pesquisa, muito útil para quem quem procura um livro nesta lista, que ronda os 3000 itens.
No blogue da Bibliotrónica Portuguesa, damos notícias sobre as publicações de Reedições, de Originais e sobre a lista de Livrónicos na Internet, além de outras notícias relacionadas com edição. Acolhemos as narrativas de Os Invulgares, publicamos crónicas e crítica editorial.

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