Brasil e Portugal iniciam grupo de trabalho para ampliar impacto do português no mundo
16 Abril 2025 Cultura e
educação
Unesco marca Dia Mundial da
Língua Portuguesa, em 5 de maio, celebrando diversidade cultural e criação de
pontes diplomáticas; Podcast ONU News conversa com diretor do Instituto
Guimarães Rosa sobre cooperação da entidade com Instituto Camões, de Portugal,
e decisões de elevar status do idioma no cenário internacional.
Em 5 de maio, a Organização das
Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, irá comemorar o Dia
Mundial da Língua Portuguesa. A data foi aprovada na 40ª Sessão da Conferência
Geral da agência da ONU, em 2019. A primeira celebração, no entanto, em 2020,
teve que ocorrer de forma virtual por causa da pandemia da Covid19, naquele
ano.
Para este quinto aniversário do
Dia Mundial, em 2025, o Podcast ONU News prepara uma série de entrevistas com
representantes de países lusófonos e de estudantes do idioma como língua
estrangeira ou segunda língua.
Guimarães Rosa e Camões em parceria
O primeiro entrevistado é o
diretor do Instituto Guimarães Rosa, o embaixador Marco Antonio Nakata.
O IGR foi criado em 2022, pelo
Brasil, exatamente 30 anos após a fundação do Camões - Instituto da Cooperação
e da Língua que é gerido por Portugal. Ao todo, o instituto brasileiro tem mais
de 40 leitorados e 24 unidades em quatro continentes.
De Brasília, o diretor do
Guimarães Rosa falou dos esforços para promover a língua comum com a formação
de um grupo de trabalho das diplomacias de ambas as nações.
“Por exemplo, para citar um
projeto concreto que estamos fazendo junto com o Instituto Camões, nós devemos
fazer uma colaboração com eles em espaços que um ou outro não tenha uma atuação
muito forte. Por exemplo, na Ásia, normalmente, o Instituto Camões tem espaços
físicos mais importantes do que o Instituto Guimarães Rosa. As unidades
nossas não mais discretas no continente asiático. No continente sul-americano,
por outro lado, o Instituto Guimarães Rosa é mais presente e tem inclusive
unidades muito importantes. Nós temos auditório para fazer apresentações
musicais etc e o Instituto Camões não tem.”
Unifeed/Jorge Rodriguez
Jovens estudantes da Universidade
Nacional de Timor-Leste
União Europeia e União
Africana
Idioma oficial de 10 países e
territórios com uma população de mais de 280 milhões de pessoas, o português é
considerado a quinta ou sexta língua mais falada do mundo. Está presente em
várias organizações internacionais e regionais como língua oficial incluindo a
União Africana, a União Europeia, o Mercosul e outros.
O diretor do Instituto Guimarães
Rosa contou que o objetivo do Brasil é unir forças com Portugal para aumentar a
presença do português na ONU no papel de língua oficial. Marco Antonio Nakata:
“O primeiro passo que vamos tomar
com relação a isso é a criação de um grupo de trabalho que vai envolver,
evidentemente, diversos segmentos das Chancelarias Portuguesa e Brasileira. Uma
das áreas é a área cultural então tanto o Instituto Camões como o Guimarães
Rosa estarão envolvidos. Mas também vamos envolver a área geográfica de
Portugal e Brasil. Nós vamos envolver a Divisão de Nações Unidas de ambas as
Chancelarias. E vamos envolver também as delegações permanentes do Brasil e de
Portugal nas Nações Unidas.”
Cplp
Com as Grandes Navegações, no
século 15, a língua de Portugal passou pelos quatro cantos do mundo. É
considerada a primeira a ser globalizada.
Hoje, ela é também a primeira ou
segunda língua das diásporas lusófonas espalhadas por países como África do
Sul, Estados Unidos, França, Japão e Luxemburgo.
Ao comentar a chegada do quinto
aniversário do Dia Mundial pela Unesco, no próximo mês, o diretor do Instituto
Guimarães Rosa diz que vale a pena aprender o idioma.
“Com o conhecimento do português,
você vai ter um conhecimento muito amplo da cultura brasileira, da cultura
portuguesa e de todos os países de língua portuguesa na África. Então, eu acho
que a pessoa só teria a ganhar ao aprender o português.”
O Dia da Língua Portuguesa, em 5
de maio, foi criado pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa em 2009 e
passou a Dia Mundial após a resolução da Unesco, 10 anos depois, em 2019.
Soundcloud
Leia na íntegra a entrevista
do diretor do Instituto Guimarães Rosa que abre uma série de conversas sobre o
idioma até o Dia Mundial da Língua Portuguesa, neste 5 de maio.
ONU News: O que é o
Instituto Guimarães Rosa, quantos são pelo mundo, quantos alunos e qual é a
importância para a promoção da língua?
Marco Antonio Nakata: O
Instituto Guimarães Rosa é baseado em Brasília, dentro do Ministério das
Relações Exteriores. Ele é o sucedâneo do Departamento Cultural do Itamaraty e
tem uma história de mais de 70 anos de diplomacia cultural. Ele tem hoje cerca
de 24 unidades distribuídas pelo mundo inteiro e nós estamos ampliando essa
rede a partir deste ano e pretendemos alcançar cidades e países através do
mundo inteiro. A função do Instituo Guimarães Rosa é promover a língua
portuguesa, mas também tem outras três vertentes que são: a cooperação
educacional, internacional evidentemente, também tem a divulgação da cultura
brasileira em todas as suas vertentes, em vários segmentos, e finalmente - e
não menos importante -, os temas multilaterais culturais, que envolvem, por
exemplo, projetos junto à Unesco, junto ao G20, ao Mercosul cultural, Brics
cultural e assim sucessivamente.
ON: O senhor esteve
recentemente na Europa fechando uma parceria com o Instituto Cervantes, da
Espanha, mas também em conversações com o Instituto Camões. Esses são
institutos que já têm década de experiência. O Cervantes foi criado em 1991 e o
Camões como Instituto da Cooperação e da Língua, um ano depois. Como essa
parceria vai fortalecer o papel do Guimarães Rosa?
MAN: Nós temos tentado
criar e assinar memorandos de entendimento com várias instituições. Entre elas
com o Camões, que assinamos no ano passado, e este ano com o Instituto
Cervantes. A ideia é que a gente tenha ações concretas, projetos concretos de
colaboração de forma a ter uma sinergia na atuação da diplomacia cultura entre
o Instituto Guimarães Rosa e esses institutos que você citou que são
experientes e com longa tradição. Por exemplo, para citar um projeto concreto
que estamos fazendo junto com o Instituto Camões, nós devemos fazer uma
colaboração com eles em espaços que um ou outro não tenha uma atuação muito
forte. Por exemplo, na Ásia, normalmente, o Instituto Camões tem espaços
físicos mais importantes do que o Instituto Guimarães Rosa. As unidades
nossas não mais discretas no continente asiático. No continente sul-americano,
por outro lado, o Instituto Guimarães Rosa é mais presente e tem inclusive
unidades muito importantes. Nós temos auditório para fazer apresentações
musicais etc e o Instituto Camões não tem.
Então nossa ideia é de que haja
uma colaboração entre as instituições de forma que eles possam se beneficiar de
espaços físicos que nós temos e nós também possamos nos beneficiar de espaços
físicos que não temos. Evidentemente, cria uma aproximação maior entre os dois
países e uma coordenação melhor no ensino da língua portuguesa.
ON: Embaixador, essa é uma
cooperação que o próprio Camões já tem com outros institutos como a Aliança
Francesa, na África do Sul. E todos saem ganhando porque há custos envolvidos
com a operação de uma sede e dois institutos podem cooperar. No caso específico
do Guimarães Rosa com o Camões. Haverá aulas com professores portugueses,
professores brasileiros. Eles vão intercalar? Como vai se dar isso na prática?
MAN: Não. Na prática, nesse
primeiro momento a ideia não é que haja um aproveitamento do ensino da língua
portuguesa. É mais uma questão dos eventos culturais acadêmicos,
seminários, conferências etc. Nós não partimos ainda para a questão do compartilhamento
do espaço físico para o ensino do português. Para isso, tanto o Camões quanto o
IGR temos uma rede ampla de leitores em diversas universidades do mundo
inteiro. E em algumas delas, nós temos tanto a vertente portuguesa quanto a
vertente brasileira. Por exemplo, no caso do Brasil, do IGR, nós temos pouco
mais de 40 leitores espalhados em diversas universidades do mundo em todos os
continentes. São pessoas do mais alto nível com pós-graduação, com larga
experiência do ensino do português, da cultura brasileira. E eles ajudam muito
a difusão da cultura brasileira, da história do Brasil etc porque eles ensinam
em suas aulas não só a língua portuguesa, mas todo o contexto cultural,
histórico e político do Brasil.
© Acnur/Omotola Akindipe
Educação no assentamento de
refugiados Lóvua, em Angola
ON: Portugal e Brasil acabam
de fazer a 14ª. Cimeira Luso-Brasileira que ocorreu em Brasília. E nessa
Cimeira, foi decido, embaixador, que haveria mais cooperação de ambos os países
para uma proposta que Portugal já tem delineada em seu 24º Programa de Governo,
que é fazer do português língua oficial das Nações Unidas até 2030. O Brasil
apoia essa proposta?
MAN: Sim. Nós apoiamos essa
proposta. Inclusive o Grupo de Trabalho de Cultura e de Língua Portuguesa
conversou sobre esse tema. O primeiro passo que vamos tomar com relação a isso
é a criação de um grupo de trabalho que vai envolver, evidentemente, diversos
segmentos das Chancelarias Portuguesa e Brasileira. Uma das áreas é a área
cultural então tanto o Instituto Camões como o Guimarães Rosa estarão
envolvidos. Mas também vamos envolver a área geográfica de Portugal e Brasil.
Nós vamos envolver a Divisão de Nações Unidas de ambas as Chancelarias. E vamos
envolver também as delegações permanentes do Brasil e de Portugal nas Nações
Unidas
É um grupo de trabalho importante
porque tem de haver uma articulação muito forte entre todas essas áreas para
que a gente possa efetivamente levar a cabo esse projeto. Não é um projeto
simples. É um projeto bastante ambicioso, mas nós consideramos muito
importante.
ON: E é um projeto, e uma
decisão que depende dos Estados-membros da ONU. Não é verdade? Como é feita
essa concertação diplomática para convencer que uma língua se torne língua
oficial?
MAN: Esse é um longo processo que
implica treinamento de intérpretes, tradutores. Implica também uma adaptação da
linguagem dos tradutores e dos intérpretes à linguagem diplomática das Nações
Unidas. Evidentemente, vai envolver a delegação do Brasil e de Portugal no
sentido de saber quais são as exigências das Nações Unidas para que a gente
possa levar adiante esse projeto. Eu acho que é um projeto muito importante. Em
outras instâncias internacionais, nós temos uma participação seja como língua
de trabalho, ou seja, como língua que depois pode passar ao status de língua
oficial. Mas eu acho que Nações Unidas, é a organização mais importante desse
ponto de vista. Nós estamos muito entusiasmados como esse projeto e vamos
começar a criar esse grupo em breve e espero ter resultados concretos.
ONU News/Alexandre Soares
A Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa, Cplp, conta com o apoio de Portugal na União Europeia para avançar
questões que são relevantes para o bloco
ON: A criação do Guimarães
Rosa ocorre num momento de mais interesse pela língua portuguesa. Ele reúne os
leitorados que já existiam há dezenas de anos pelo mundo e bem administrados
pelo Brasil. Mas qual é a necessidade de se formalizar um instituto nesse
momento em nível de política da língua, realizada pelo Brasil, e pelos demais
países na CPLP?
MAN: Eu queria dizer umas
palavras sobre o programa de leitorado que é um dos mais longevos de diplomacia
cultural do Brasil. Tem mais de 70 anos. E houve pessoas extremamente
importantes como o próprio Sergio Buarque de Holanda que foi um leitor, Celso Cunha
foi leitor. Houve grandes personalidades, intelectuais que foram leitores
brasileiros. É fundamental porque realmente é uma política que ajuda a difundir
a cultura brasileira. São pessoas que criam laços acadêmicos, culturais muito
fortes com outras universidades. E permitem que haja um intercâmbio tanto
cultural quanto linguístico também com outros países. Eu acho que a atuação
nossa em universidades, na questão educacional é fundamental. O atual
grupo de leitores brasileiros é realmente do mais alto nível. Eu os conheci
numa reunião que fizemos em Maputo, Moçambique, no ano passado, e fiquei muito
impressionado. São pessoas assim muito empenhadas em difundir o Brasil, a
língua portuguesa, e pessoas do mais alto nível acadêmico e intelectual. Então
eu acho que é um investimento que nós fazemos para difundir a cultura
brasileira, mais do que reconhecido e mais do que necessário.
ON: Embaixador, dia 5 de maio
será o Dia Mundial da Língua Portuguesa. E é uma festa em todo mundo porque
essa língua vai das Américas à Ásia. Ela vai de Norte a Sul. Ela é falada por
280 milhões de pessoas em pelo menos 10 países porque nós temos os nove países
membros da CPLP, mas também temos a Região Administrativa de Macau, na China,
onde português é língua oficial até 2049. Então, temos 10 países e territórios,
e claro, as diásporas pelo mundo porque há cabo-verdianos, portugueses,
brasileiros, moçambicanos em várias partes do mundo. Vamos fazer de conta que
eu sou estrangeira e quero aprender português. Por que vale a pena falar
português?
MAN: Bom, uma das razões você já
deu. Você terá oportunidade de ter uma comunicação com milhões de
pessoas, de diferentes culturas, de diferentes continentes. Só isso já é uma
razão importante. Mas eu diria que do ponto de vista cultural, o fato de você
aprender o português vai abrir um mundo de cultura, de literatura, de música
que, efetivamente, vai enriquecer espiritualmente e culturalmente a sua vida.
Por exemplo, escritores como Camões, como José Saramago, no caso de Portugal
Eça de Queirós, Fernando Pessoa. E no caso do Brasil, o próprio Guimarães Rosa,
Machado de Assis, Clarice Lispector, enfim, dezenas, centenas de outros, também
vários africanos de língua portuguesa que são espetaculares. Só isso já
justificaria o fato de você aprender uma língua que é muito bonita, muito
sonora com vertentes diferentes de sotaque. Mesmo no Brasil tem sotaques muito
diversos. Também do ponto de vista musical, do ponto de vista do cinema, da
música, arquitetura. Com o conhecimento do português, você vai ter um conhecimento
muito amplo da cultura brasileira, da cultura portuguesa e de todos os países
de língua portuguesa na África. Então, eu acho que a pessoa só teria a ganhar
ao aprender o português.
FIM
*Monica Grayley, da ONU News
em Nova Iorque.
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